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A Graça da Justificação

Atualizado: 24 de abr. de 2023



O Reino de Deus é maravilhoso, gracioso, belo e, na falta de adjetivos para algo tão elevado e ilimitado, digo também que ele é eterno. O Reino de Deus é formado por gente de todos os povos, de todas as nações, línguas e etnias. É um Reino onde pessoas de culturas extremamente diferentes possuem características em comum. Um dos fatos mais curiosos a respeito desse Reino é que ele não funciona a partir da razão e da lógica humana, pois, nele, quando perdemos é que ganhamos; quando damos, recebemos; quando morremos, é que nossa vida de fato inicia. Na loucura do evangelho, encontramos sabedoria; na humilhação, exaltação; na dor, alento; na tristeza, alegria e esperança. Rodrigo Bibo, em O Deus que destrói sonhos, nos diz: A lógica do Reino de Deus é contrária à do reino de César.”. Podemos até dizer que o Reino apresenta “aparentes contradições”­­­ (mas só aparenta, não são contradições de fato, já que em Deus não existem contradições), haja visto que, muitas vezes, durante a nossa caminhada cristã, não conseguimos entender a forma soberana que Deus atua.


O leitor, com base no título, pode estar se perguntando “mas não era um texto sobre justificação?’’. E sim, esse é um texto sobre justificação. Mas para entendermos de fato o que é a justificação, devemos nos lembrar que, no Reino, a ordem é diferente. A partir dessa linha de pensamento, chegamos a outras “aparentes contradições’’: no Reino, perdidos são salvos. Inimigos de Deus tornam-se seus filhos amados. Sujos são limpos. Devedores são perdoados. E o mais importante para nós hoje: injustificados tornam-se justificados.


A justificação pela fé é uma das doutrinas mais importantes do protestantismo. Por meio do “(...) como está escrito: o justo viverá pela fé.” (Romanos 1:17), Martinho Lutero, em 1517, deu início à Reforma Protestante. Nas palavras do próprio Lutero: Esta doutrina é a cabeça e a pedra fundamental. Por si só, ela gera, alimenta, edifica, preserva e defende a igreja de Deus. E sem ela, a igreja de Deus não poderia existir nem por uma única hora.’’. Dito isso, quero dar minhas contribuições a respeito da justificação e sobre como o legalismo, algo tão presente na igreja brasileira atual, afeta nossa compreensão acerca dessa maravilhosa doutrina.


Mas o que de fato é a justificação? Segundo o Catecismo Maior de Westminster, na pergunta 70, nos é dito: “Justificação é um ato livre da graça de Deus para com os pecadores, no qual Ele os perdoa, aceita e considera justas as suas pessoas diante dEle, não por qualquer coisa neles operada, nem por eles feita, mas unicamente pela perfeita obediência e plena satisfação de Cristo, a eles imputadas por Deus e recebidas só pela fé.”. Em outras palavras, Deus, em sua soberania e graça, escolheu nos justificar. Nossa justificação não foi alcançada por méritos ou por esforços nossos. Fomos justificados mediante a obediência de Cristo ao Deus Pai, que O levou a morrer na cruz. Por meio da justificação, pecadores são tornados santos perante Deus. O mais incrível é que fomos justificados simplesmente porque Deus quis. Sim, é isso mesmo que você leu! Você e eu não fizemos nada para contribuir com nossa justificação, e glória a Deus por isso, pois, se a justificação dependesse minimamente de nós, ninguém estaria justificado de fato (devido à nossa depravação total e à nossa natureza pecadora).


Algo que eu aprendo estudando a doutrina da justificação é que o Deus de amor escolheu amar e Ele fez essa escolha antes de sermos justificados. Ele não nos amou porque somos justificados. Ele nos amou para nos justificar. Ele não nos amou e nos justificou porque éramos filhos dEle, mas nos amou e nos justificou para nos fazer filhos e nos reconciliar com Ele. Podemos inferir isso a partir de Romanos 5:8-10: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores. Logo, muito mais agora, sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira. Porque, se nós, quando inimigos, fomos reconciliados com Deus mediante a morte do seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida (...)’’. Esse é um dos ensinamentos da justificação: Deus amou primeiro. E a justificação de Deus, que é uma das manifestações do seu doce e infinito amor, nos deu paz. Como também está escrito “Justificados, pois, pela fé, temos paz para com Deus por meio do nosso Senhor Jesus Cristo.’’ (Romanos 5:1).


Agora entendem por que eu iniciei falando sobre a lógica do Reino de Deus? Deus não justifica a partir de nossas obras ou ações, mas nos justifica por meio do sangue de Cristo derramado na cruz. Lembro-me de um trecho da bela canção Magia alguma, do Oficina G3 (a segunda melhor banda de rock cristão brasileira, já que a melhor do Brasil e do mundo é o Resgate), que nos diz: “Gotas de sangue me justificam. E eu sei que isso, a partir da nossa lógica humana e limitada, pode, em um primeiro momento, não fazer sentido, já que, segundo nosso entendimento, é necessário algum tipo de esforço para alcançarmos algo. E eu volto a repetir: caro(a) leitor(a), se a justificação fosse por meio de esforços seus, você continuaria injustificado. É por isso que, infelizmente, o legalismo, vertente teológica que defende que a salvação é obtida por meio do cumprimento de regras e obras, é tão disseminado na igreja brasileira atualmente. Na lógica humana, é muito mais fácil seguir regras e mandamentos específicos para ser salvo do que se render e viver na doçura da graça salvífica e justificadora de Deus. Caro(a) leitor(a), você não é salvo(a) por/para cumprir regras e mandamentos, mas, o fato de ter sido salvo(a) por meio da justificação de Deus, o faz obedecer aos mandamentos dEle, revelados na Escritura. Por isso, quem é justificado pratica boas obras e boas ações, pois elas não são um fim em si mesmas, mas sempre apontam para algo maior: o Deus que justifica pecadores.


Lembremo-nos da parábola do Fariseu e do Publicano: o fariseu, que chamarei aqui de legalista, dava graças aos céus por ser um homem que cumpria todos os mandamentos e por não ser igual aos demais homens (em especial, ao publicano). Já o publicano prostrou-se e humilhou-se diante de Deus e pediu por misericórdia ao Senhor compassivo. No fim da parábola, Cristo nos diz que o publicano, e não o fariseu, que seguia todos os mandamentos da lei, foi justificado. Eu não sei você, mas eu, no bom sentindo da palavra, prefiro ser como o publicano que entendeu que a salvação não é por meio de regras e de glória por cumpri-las, mas que a salvação, é por meio da misericórdia e do amor do Altíssimo. Que o nosso evangelismo seja baseado na justificação pela fé e não nos legalismos ou em um conjunto de regras, pois evangelismo sem a graça e o amor de Deus é simplesmente um falso moralismo. E isso, amigos(as), está longe de ser o verdadeiro evangelho. Amém!


Por: Aleson Ribeiro

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