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a produção cultural revela o criador: cast away - a dependência de deus, não do tempo.



Como qualquer obra de arte, a aqui tratada é fruto do seu tempo, mas a maneira de tratar cada história, especialmente no cinema, permite que a experiência projetada na telona possa refletir a realidade verdadeira que Deus criou, ao ponto de uma obra durar na mente do público pelos princípios cristãos imputados, ainda que misturados em um caldeirão de ideias possivelmente anticristãs. De maneira geral, o filme “O Naúfrago” acaba por refletir sobre ele mesmo, e ao observar tal obra, somos convidados a pensar (à sua maneira dramática), em como o ser humano se inclui no tempo, seja de maneira passiva ou ativa, tanto se capta um endeusamento de quem assiste (na maneira de prever os dramas do náufrago do título), como a quebra desse orgulho (ao desprender da dependência do tempo como sendo a essência para a vida).


Nessa obra cinematográfica, somos apresentados ao protagonista Chuck Noland (Tom Hanks), que trabalha para empresa “FedEX”, uma multinacional de correios, que toma muito de seu tempo, em que ele continuamente usa o famoso “beep” para não se atrasar nos compromissos, mas de maneira incoerente perde sua vida, justamente por não ter tempo. Um exemplo claro, é o de sua namorada, com a qual tem uma união estável, por não ter tempo para casar. Um compromisso para o qual ele se atrasa, pois, não tem tempo para tal. Claramente um homem que se submete ao tempo por causa do seu trabalho.


Como não lembrarmos das reflexões de Salomão em Eclesiastes sobre a vaidade do ser humano? Qual a vantagem do trabalho debaixo do sol diante do movimento constante das gerações, do tempo, se nada é novo? Essas reflexões nos lembram como cada um de nós nos submetemos a prática repetitiva do tempo, porém não abrimos a mente para qual o real trabalho que estamos fazendo no contexto que o tempo doutrina. A que(m) temos dedicado nossas vidas debaixo do sol?


No entanto, podemos ir mais além. Aqui temos Chuck, homem que é controlado pelo tempo, e passivo a ele, mas que durante o filme, vemos uma regeneração milagrosa, ou simbolicamente divina de compreender o tempo. O homem passivo é convidado a ser ativo. Assim poder-se-ia compreender “O Náufrago”, quando entendemos que a obra de arte não apenas tem uma temática que pode ser pincelada para uma associação com a Bíblia, mas sua forma de contar também precisa refletir a verdade que Deus criou na nossa realidade quando confrontamos a farsa de um filme com o mundo que vivemos.


Partindo disso, quando é mostrada no filme a casa em que Chuck vive, em cada canto da casa existe um relógio impedindo a visão clara dos porta-retrato postados, e ironicamente ele estava atrasado para pegar o avião que o faria um náufrago, podemos perceber a farsa vendida de que vivemos em liberdade conhecendo sobre o tempo. Em Eclesiastes 3:11 diz “Tudo fez formoso em seu tempo; também pôs o mundo no coração do homem, sem que este possa descobrir a obra que Deus fez desde o princípio até ao fim.”, e em Gálatas 5:1 diz: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” Ao mesmo tempo que Deus nos limitou sobre conhecimento de toda a sua obra, até mesmo com relação às dimensões do tempo, Ele nos deu liberdade pelo conhecimento Dele, O Único digno de submissão, em vista que Ele é o Criador. Observamos aqui,que a problemática abordada no filme é a crítica à falsa liberdade do ser humano no seu conhecimento de administrar o tempo, quando, na verdade, o personagem se submete a ele, negando sua liberdade inevitavelmente, e só alcançando-a no sobrenatural conhecimento (Deus) dentro do universo do filme.


Para fazer tal crítica, o universo da obra propõe uma linguagem de contar a história para quem assiste revelando duas características do filme: o espectador pode sempre enxergar passos à frente do protagonista, e sempre haverão caminhos e escolhas a serem percorridos no tecido temporal. E isso não ajuda apenas a reafirmar a passividade de Chuck diante da realidade que nós constatamos ao assistir ao filme, como também, nos insere a possibilidade de energia de reação ativa do protagonista para ele descobrir o que nós descobrimos antes sobre a submissão do tempo, desde o começo do filme.


Dessa forma o diretor nos coloca como um “deus” emulativo, uma farsa cinematográfica para que nós acompanhemos um processo de transformação, nos ajudando a entender uma frase que C.S Lewis diz em seu livro “Cristianismo Puro e Simples”:


"Essa vida humana em Deus, vista da nossa perspectiva, corresponde a um período particular da história do nosso mundo (do ano 1 da crucificação). Imaginamos assim que também correspondia a um período da história da própria existência de Deus. Deus, porém, não tem história. Ele é tão absolutamente real que não pode ter. Isso porque ter uma história significa perder uma parte da realidade (que se desvanece no passado) e ainda não gozar de outra parte (que encontra no futuro): na verdade, ter uma história é não possuir nada a não ser o minúsculo presente, que acaba antes que possamos abrir a boca de falar dele. Deus nos livre de pensar que ele seja assim. Mesmo nós temos a esperança de não ficar limitados dessa forma para sempre."


Quando Chuck se torna náufrago ele muda o seu tempo, se torna ativo, ao ponto de fazer fogo como um homem das cavernas, numa descoberta histórica. Ele vira um descobridor da ilha, assim como nós que assistimos vamos compreendendo como ele vai se adaptando a essa realidade da natureza bruta pronta para o homem desbravar da criação divina. Não há mais espaço para viver em teorias que buscam ser a parte do tempo ou alguma cultura explicita que são determinadas pelo tempo, resta a prática da ordenança divina de Gênesis de sujeitar, dominar, se tornar ativo no tempo presente, ou fazer história, como muitos diriam. Mas como disse Lewis, isso é parte da realidade, isso é uma parte da transformação que Deus quer de nós para compreendermos a completa realidade que o ser Divino nos proporcionou. É preciso uma regeneração que o homem sozinho não pode fazer, aquela que existe pelo fato do coração humano ser inclinado a Deus e dependente Dele.


Entre a predestinação de Deus e a responsabilidade dos homens sobre seus atos no tempo, sempre importante lembrar da frase que o mago Gandalf de o “Senhor dos Anéis” diz ao herói Frodo, como consolo a nós que choramos pelo tempo e cada vez buscamos ser mais dependentes de Deus:


“Assim como todos que testemunham tempos sombrios como este, mas não cabe a eles decidir, o que nos cabe é decidir o que fazer com o tempo que nos é dado.”


Por Davi Fonteles

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