top of page

A Produção Cultural Revela o Criador: Game Of Thrones - O que é irredimível?



Se tem duas coisas que você precisa saber sobre mim, são as seguintes: eu sou cristã e sou muito, muito fã das Crônicas de Gelo e Fogo, de George R. R. Martin, popularmente conhecidas como Game of Thrones.


O complexo mundo tecido por Martin em seu épico de fantasia tem me cativado desde a primeira vez que tive os livros em mãos. A história cheia de reviravoltas inesperadas, com um universo imersivo e único me fizeram devorar cada uma das mais de 5000 páginas que compõem a saga principal e seus livros relacionados. No entanto, o que torna essa empreitada tão especial para mim é a joia da coroa da escrita de Martin: os personagens.


As crônicas não trabalham com branco e preto na moralidade de seus personagens - temos personagens cinzas em graus diferentes, todos com histórias complexas e passados únicos que interferem com o desenrolar da história de maneiras mensuráveis e relevantes. Temos personagens quase brancos, como Eddard Stark e Arthur Dayne, personagens completamente negros, como Ramsay Bolton e Vargo Hoat, e muitos outros para preencher todo o espectro do cinza.


Meu personagem favorito não é desses que são praticamente heróis. Porém, na verdade, a moralidade dele pende bem mais para o negro do que para o cinza. Meu personagem favorito é ninguém menos que Jaime Lannister. Jaime é um cavaleiro da Guarda Real, juramentado para defender o rei e que serve de forma vitalícia. Ele é belo, herdeiro da riquíssima e poderosa casa Lannister, e um dos cavaleiros mais habilidosos a já existir nos Sete Reinos. Toda essa proeza, beleza e poder, no entanto, vêm acompanhadas da personalidade detestável do cavaleiro: é arrogante, egoísta, sarcástico e convencido.


Ah, e se a lista parasse por aí! Jaime tem uma lista extensa de ofensas que carrega consigo: apelidado de Regicida por ter matado o rei que jurara defender, ele é incestuoso e possui três filhos com sua irmã gêmea Cersei. Não bastasse isso, um dos nossos primeiros encontros com o homem na história mostram ele atirando uma criança de sete anos de uma torre para encobrir seu caso, atrocidade que ele comete sem nenhum sinal visível de remorso. Jaime é, em todos os sentidos da palavra, completamente irredimível.


- Bem, e por que é que ele é seu personagem preferido, então, se ele é assim tão horrível? - Ouço você se perguntando.


Veja, a história de Jaime não acaba aí. Em seu estado inicial, deplorável e sujo com incontáveis crimes, Jaime faz lembrar a cidade de Nínive, que encontramos no livro de Jonas. A cidade é inimiga número um de Israel, um local pagão e particularmente cruel em suas investidas de guerra. O local é tão infame por sua malignidade que Jonas prefere que a cidade pereça a ser resgatada. No entanto, é exatamente para lá que o Senhor o envia.


Nós somos muito parecidos com Nínive, e com Jaime Lannister também. Romanos 3:10-18 narra nossa situação perante Deus: somos descritos como extraviados, cujas gargantas são sepulcros abertos e com línguas que urdem engano, pés velozes para derramar sangue e fazer o mal. Nós não temos crédito em nossas contas para julgar Nínive, e muito menos Jaime: dividimos parcela de culpa e somos igualmente, irredimíveis. Por uma graça soberana, no entanto, não somos os autores de nossas próprias histórias, e o destino de nossas vidas está nas mãos de Alguém muito mais sábio. Deus decide, apesar de nós, redimir-nos de nossas ações culpáveis. Efésios 2:4-8 nos diz:

Mas Deus, sendo rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, - pela graça sois salvos, e, juntamente com ele, nos ressuscitou, e nos fez assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus; para mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade conosco, em Cristo Jesus. Porque pela graça sois salvos; mediante a fé, e isso não vem de vós; é dom de Deus.


Que passagem incrível! Deus, por seu imenso amor e misericórdia, escolhe resgatar-nos de nós mesmos, apesar daquilo que fizemos. E é isso que acontece com Jaime: ele tem uma arca de redenção.


No terceiro livro, A tormenta de espadas, Jaime é capturado por um grupo mercenário e tem sua mão de espada decepada. Esse destino lhe é particularmente cruel, já que todo o seu valor estava depositado em sua habilidade como espadachim. Despojado de tudo que constituía sua identidade, ele agora é forçado a encarar quem ele é além da espada e tudo o que ele fez, e começar uma jornada de perdão em que sua personalidade e moralidade são fundamentalmente mudadas. O Regicida, no final das contas, não era irredimível.


Nós somos tão Jaime quanto somos Nínive: pecadores que precisam de um resgatador e que precisam de arrependimento. No entanto, nós, cristãos, temos a tendência de agir como Jonas: com nossa moralidade, julgar o mundo e os outros como indignos de redenção e muitas vezes nem sequer dispomos a proclamar a palavra de Cristo, esquecendo de quem nós realmente somos. Nas palavras de Jaime, “Com que direito o lobo julga ao leão?”


Todos nós precisamos de uma mão salvífica estendida em nossa direção, e como Nínive resgatada, essa é nossa missão: a de entender o quanto precisamos e anunciar essa mão estendida, vertendo sangue sacrificial, pronta a nos acolher e, apesar de nós, nos redimir. No fim das contas, se Deus escolheu redimir a nós, o que é, realmente, irredimível? Lembremos de nossos lugares, irmãos, e acolhamos todos aqueles que o mundo julga indignos de salvação. O banquete é para todo aquele que crê, e os ninivitas lado a lado com o ladrão da cruz estarão lá para nos lembrar disso.


Por: Júlia Zarro

 
 
 

Comments


fale com a gente
  • White Facebook Icon
  • Instagram Cru Ceará

@2016 por Renato Camilo e Valécia Bessa. Todos os direitos reservados Cru Ceará

bottom of page