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PERFEIÇÃO E VULNERABILIDADE EM ‘THIS IS US’


A família Pearson, uma grande limonada

This is Us é uma série de drama que conta a história da família Pearson: Jack, Rebeca e seus trigêmeos Kevin, Kate e Randall. No decorrer dos episódios, vemos o desenvolvimento da família, desde o primeiro contato do casal até o presente, onde os três filhos já estão adultos e construindo suas respectivas histórias. É uma série bela, sensível, realista e que nos leva a uma incrível experiência de conhecermos essa família totalmente imperfeita. Trata de temáticas importantes como adoção, casamento, problemas familiares, alcoolismo, racismo, entre outras. Mas há algo na série que me chamou a atenção e me fez refletir enquanto assistia: o personagem Jack Pearson - a figura ideal de homem, marido e pai.


Homem perfeito?

Se você já assistiu This is us, provavelmente sabe do que estou falando. Logo quando começamos a assistir, é muito fácil perceber que Jack é um paizão. Amoroso, presente, brincalhão, paciente, apoiador. Somos, então, cativados por esse personagem que não é somente um ótimo pai, mas um marido exemplar. E não é somente o espectador que percebe a grandeza desse personagem, seus próprios filhos o estimavam muito, como um exemplo perfeito a ser seguido. Porém, é este o ponto central que quero tratar aqui. Jack é, sem dúvidas, um exemplo a ser seguido, mas há nele uma característica problemática: sua falta de vulnerabilidade. Jack tinha uma grande dificuldade em se abrir até mesmo para sua esposa, sua companheira de vida e pessoa na qual ele mais deveria confiar. Ao olhar para si mesmo, para seu passado difícil, suas imperfeições e dificuldades, não suportava a ideia de vê-las à mostra para seus filhos; deixando, assim, a transparência de lado para mostrar somente suas partes boas. Nessa tentativa de sempre se mostrar perfeito, Jack acaba não ensinando para seus filhos que ele também errava como qualquer ser humano. Dessa forma, Kevin cresce tentando ser como o pai, seu herói, mas em cada fracasso se via distante do modelo inalcançável, o que o ocasionou muitas crises em várias áreas de sua vida. Randall vai ainda além: tinha o pai como modelo, mas tentava ser ainda melhor do que ele; e com toda essa pressão que colocou em si mesmo, com seu perfeccionismo e medo de fracassar, acaba desenvolvendo crises de ansiedade e ataques de pânico. Kate, a filha mais próxima de Jack, acaba sofrendo também, mas por outras razões.


Nossa perfeita imperfeição

Edith Schaeffer, em seu livro O que é uma família, comenta algo interessante sobre a perfeição:


“Fingir a perfeição ensina de pronto a falsidade [...]”


Edith estava falando exatamente sobre a vida em família, sobre não usarmos máscaras na tentativa de esconder nossa parte desagradável. Ela também comenta sobre a grande responsabilidade dos pais em ensinar cedo aos filhos sobre a existência do pecado e que os pais são seres pecadores, bem como de nossa incapacidade de sermos perfeitos, pois somente um Homem conseguiu, Jesus Cristo. Nós, como falhos humanos, não estamos isentos de estarmos na situação de Jack ou de seus filhos. Podemos viver na triste mentira de acharmos que só seremos amados enquanto formos perfeitos, enquanto acertarmos. Ao termos essa perspectiva, seremos falsos ao não mostrar quem somos, teremos medo de revelar pecados, dificuldades, dores, dúvidas, temendo a rejeição. Nunca me esquecerei de uma incrível resposta da Francine Walsh, do blog Graça em flor. Ao perguntarem: “Qual foi o melhor conselho que você já recebeu de alguém?”, Francine respondeu: “Você não precisa ser perfeita para ser amada”. Gostaria que Jack também soubesse disso. E há outro caso também. Podemos viver na mentira de achar que há pessoas perfeitas, pais perfeitos, cônjuges perfeitos, amigos perfeitos, mas será também outra ilusão. Todos, sem exceção, todos pecaram, como diz Paulo aos romanos:


“Pois todos pecaram e estão destituídos da glória de Deus” [Rm 3:23]


Chamados para exercer a humildade

Edward Welch, em seu livro Aconselhando uns aos outros, faz um comentário interessante sobre o orgulho:


“Nosso orgulho nos impede de sermos vulneráveis [...] essa estratégia autodefensiva (de guardar os problemas para si mesmo) pode parecer eficaz no curto prazo. Não é, porém, a maneira como Deus nos criou para que possamos agir uns com os outros.”


O fato de não pedirmos ajuda temendo que nossos pecados e falhas sejam vistos é problemático. Sendo ainda mais clara, é pecado. Não podemos deixar nosso orgulho ditar nossas vidas. Prisca Lessa, em seu artigo Amar é ser vulnerável, comenta também sobre esse orgulho: “É egoísmo sempre consolar e engolir o choro sozinho para não mostrar fraqueza.” Deus nos fez seres relacionais. E relacionamentos incluem humildade. Humildade para enxergar quem realmente somos e aquilo que o outro é. Humildade para ouvir um desabafo e desabafar também. Humildade para entender que somos amados por Deus, e isso deve nos fazer amar nosso próximo: “Nós amamos porque Ele nos amou primeiro.”1Jo 4:19.

Humildade para ser verdadeiro e transparente, para tirar nossa máscara e toda falsidade que houver em nós. Humildade para ser vulnerável e entender que o outro, assim como você, sangra também. Jack não era uma pessoa perfeita, e nós também não somos. Porém, nossa esperança reside em Cristo, em sua Cruz e em sua obra redentora, e é por meio dessa obra que vivemos. Por meio dEle, temos paz com Deus e com nossos irmãos. Nele obtemos a humildade e o amor para nossas vidas, entendendo, como nos diz Lewis, em Os Quatro Amores, que


“Amar é sempre ser vulnerável”.


Por: Giulia Frota

 
 
 

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